Então, as deusas são arquétipos femininos?
Agora que a gente já sabe o que é arquétipo de forma mais profunda, eu vou dizer que as Deusas não são arquétipos — elas são manifestações do arquétipo da Grande Deusa, este sim contempla o feminino. As deusas são facetas da Grande Mãe, facetas do feminino.
Então, desde Atena, a Guerreira, que valoriza o seu trabalho, a política e tudo que é da ordem da civilidade; Afrodite, que valoriza a conexão e a percepção sensorial, e naturalmente todos os encontros; Perséfone, que valoriza a conexão espiritual, o seu mundo interno e a riqueza que existe dentro dele — todas elas são o nosso feminino.
Aqui a gente fala das deusas do panteão grego porque somos uma civilização ocidental, onde a cultura grega, desmembrada, ainda impera na nossa civilização. No entanto, as outras deusas dos outros panteões também são facetas da Grande Mãe, mas nós, por sermos ocidentais, vamos nos conectar mais facilmente com as deusas do panteão grego.
De qualquer modo, desde que o patriarcado — esse sistema de dominação que valoriza o masculino — impera, o feminino se manifesta em todas as suas facetas, em todos os anos e em momentos históricos, favorecendo alguns tipos de personalidades.
Antigamente, era valorizado o arquétipo de Hera, a matriarca que governa o lar, mulher de um grande chefe; Deméter, a mãe nutridora; e Coré, a ingênua, infantil e fácil de manipular — a “boazinha”.
E claro que todas as facetas da Deusa que transmitiam independência, sexualidade e alguma forma de poder foram jogadas na sombra da nossa sociedade. E, como toda sombra, elas emergiram — e hoje nós temos outros arquétipos na sombra.
Depois de anos de submissão e do poder sendo vinculado apenas ao “orar”, hoje os arquétipos de independência e sexualidade estão aflorados. As mulheres buscam se conectar com eles porque não são historicamente conhecidos para as mulheres atuais. E na sombra fica tudo aquilo que falta e que nós subjugamos: a nossa nutrição e capacidade de criação, o nosso poder de governar e o nosso poder interno. Porque, apesar de a bruxa ser muito buscada por algumas mulheres, esse poder ainda é subjugado.
E por último — porque esse texto já está enorme —, quando nós subjugamos uma faceta da Deusa, nós estamos subjugando o feminino. Quando nós todas estamos buscando nos reconectar com quem nós somos, estamos buscando nos conectar com o nosso feminino. E isso vai exigir uma conexão com todas as facetas porque, sim, nós vivemos todas elas, de forma mais ou menos consciente.